Estou aqui e você não me vê
O desafio da colocação ou recolocação profissional da pessoa que cumpriu pena e carrega antecedentes criminais é o maior deles na nova etapa da vida.
Numa cidade como São Paulo, onde as oportunidades de emprego e a exclusão caminham lado a lado, muitos egressos tomam iniciativas próprias e buscam áreas precarizadas para não ficarem sem renda e seguirem suas caminhadas rumo à ressocialização.
Nesta publicação trazemos uma lista de trabalhos (precários) onde os egressos e egressas estão presentes, são extremante necessários e a sociedade não enxerga. O levantamento foi realizado com base na vida comunitária do centro de São Paulo e a partir de escutas feitas com lideranças sociais que atuam no amparo social da população carente da região.
Atividades onde o egresso é egressa do sistema penitenciário estão e a sociedade usufrui, mas não vê.
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Centro de SP – Região Se – 25 de março – Parque Dom Pedro
Puxador de clientes para lojas especializadas em um determinado serviço. Exemplo: lojas de cabelos naturais e sintéticos, conserto de celular.
Entregadores com bicicletas – açougues, padarias e depósitos de bebidas para médias e pequenos restaurantes da área central.
Serviço de carga e descarga de contêineres para os lojistas chineses.
Obs. Esta atividade é realizada no final da noite e meio da madrugada.
Parque Dom Pedro.
Vendedores de roupas, calçados, acessórios (usados) e itens de higiene pessoal para moradores de rua.
Vendedores ambulantes de almoço e jantar a preços populares para trabalhadores e população de rua.
Fretes com carrinho de mão para transporte de lotes de mercadorias para os comerciantes chineses ou compradores, lojistas de outros municípios.
Mercadão Municipal

Serviços de transporte de mercadorias e faxina dos boxes no final de cada dia de trabalho.
Zona Cerealista
Trabalham na organização dos postos de venda e na descarga dos caminhões.
Reciclagem
A coleta de resíduos recicláveis abriga um número expressivo de pessoas egressas que vivem no centro de SP.
Muitas, inclusive, estão informalmente vinculadas a depósitos (ferros velhos); ou participam de cooperativas.
Profissionais do Sexo
Longe do imaginário coletivo, uma parcela quase imperceptível de egressos e egressas atua no mercado do sexo em programas de curta duração, a preços baixos e em pagamentos recebidos em dinheiro vivo.
Os homens (miches) oferecem seus serviços normalmente nos banheiros públicos.
As mulheres (prostitutas) se concentram em pontos estratégicos e de permanência do público, como Praça da Sé e Parque da Luz,e nas imediações dos hotéis sociais mantidos pela Prefeitura.
Conclusão
Com base na análise das atividades laborais precárias e informais desenvolvidas por egressos e egressas do sistema prisional na região central de São Paulo, o artigo “Estou aqui e você não me vê” lança luz sobre uma realidade complexa e muitas vezes invisibilizada. O maior desafio da recolocação profissional após o cumprimento da pena força estas pessoas a buscarem sua sobrevivência em nichos de mercado marginalizados, mas essenciais para o funcionamento da economia local.
O levantamento revela a profunda contradição social: enquanto a exclusão e o preconceito impedem o acesso a empregos formais, a sociedade se beneficia diretamente da mão de obra destas pessoas em funções como puxadores de clientes, entregadores, trabalhadores de carga e descarga noturna, freteiros com carrinho, serviços no Mercadão e Zona Cerealista, catadores de reciclagem e, até mesmo, no mercado do sexo.
Estas atividades, embora precarizadas e de baixo reconhecimento social, demonstram a iniciativa e a urgência dos egressos em buscar a ressocialização por meio do trabalho e da geração de renda.
Em última análise, o artigo não apenas expõe a dificuldade da reinserção, mas também convoca a sociedade a “ver” e a reconhecer a dignidade e a necessidade desses trabalhadores. A presença deles nas engrenagens invisíveis do centro de São Paulo evidencia o fracasso das políticas públicas de emprego e a necessidade urgente de se criarem caminhos mais formais e inclusivos.
A verdadeira ressocialização exige que se supere a barreira dos antecedentes criminais e que se ofereçam oportunidades que permitam a transição da sobrevivência precária para a plena cidadania, tirando esses indivíduos da sombra da invisibilidade para a luz do reconhecimento profissional e social.
